segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Depressão

A partir de hoje (22/09/2014) o Jornal da Band (19:20h) exibe uma série de reportagens sobre "depressão". Para quem acha que é besteira, saiba que o assunto é sério. Apenas quem sofreu uma perda (ou quase perda) sabe o que a depressão significa.
Em 2013 passei por uma tentativa de suicídio por parte da minha esposa e no 1o semestre desse ano pensei em me matar também, mas descobri que para cometer suicídio você precisa ser muito forte (e não fraco como diz o senso comum).
Prestem atenção em seus amigos, em seus familiares. Não tenham vergonha em oferecer ajuda e conversar. O silêncio e a tristeza podem ser indícios de um problema muito sério. Prestem atenção nas pessoas próximas e talvez vocês se surpreendam, além de salvar uma ou mais vidas.
A depressão é uma doença. Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos que ocorrem dentro das células nervosas também estão envolvidos.
Ao contrário do que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais, muitas vezes, são consequência e não causa da depressão. Vale ressaltar que o estresse pode precipitar a depressão em pessoas com predisposição, que provavelmente é genética. A prevalência (número de casos numa população) da depressão é estimada em 19%, o que significa que aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo apresenta o problema em algum momento da vida.

A diferença entre tristeza e depressão
A tristeza é um fenômeno de causas externas. A morte de uma pessoa querida, o fim de um namoro são exemplos de eventos que podem deixar alguém triste. Para a psicanalista Teresa Pinheiro as pessoas que passaram por algum acontecimento ruim, tentam entender e dar algum sentido ao ocorrido. “Existe, nessa situação, uma narrativa, uma causa e a pessoa tenta dar sentido ao que, em um primeiro momento, não faz”, explica. Mesmo que a tristeza aconteça em consequência de um fato, isso não significa que ela irá passar mais rápido do que uma depressão, por exemplo. Ao tentar entender a situação pela qual passa, a pessoa triste não se afasta do resto do mundo. Muitas vezes pede ajuda para superar o ocorrido.
Ao contrário da tristeza, a depressão é um fenômeno interno e não precisa de um acontecimento para disparar este sintoma. A pessoa fica apática, não sente vontade de fazer nada e não entende o por quê. Dificuldade de concentração, cansaço sem explicação, alterações no sono e no apetite são alguns dos sintomas da depressão. “Pessoas muito irritadas, com mau humor permanente têm mais chances de terem depressão”, explica. Mas ela não sabe por que está apática ou irritada. Ela não consegue nomear o que está sentindo e nem dar sentido aquilo. “Muitos chegam no consultório e não entendem por que estão mal já que a vida está ótima”, diz Teresa. Ao contrário do triste, o deprimido se distancia das pessoas queridas. Fica desanimado, aparentemente sem motivo. A depressão possui 8 sintomas a saber:
  • Alteração de humor
O principal sintoma da depressão é o humor deprimido, que pode envolver sentimentos como tristeza, indiferença e desânimo. Todos esses sentimentos são naturais do ser humano e nem sempre são sinônimo de depressão, mas, se somados a outros sintomas da doença e persistirem na maior parte do dia por ao menos duas semanas, podem configurar um quadro de depressão clínica. “O humor deprimido faz com que a pessoa passe a enxergar o mundo e a si mesma de forma negativa e infeliz. Mesmo se acontece algo de bom em sua vida, ela vai dar mais atenção ao aspecto ruim do evento. Com isso, o paciente tende a se sentir incapaz e sua autoestima diminui”, diz o psiquiatra Rodrigo Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP.
  • Desinteresse por coisas prazerosas
Perder o interesse por atividades que antes eram prazerosas é outro sintoma importante da depressão. O desinteresse pode acontecer em diferentes aspectos da vida do indivíduo, como no âmbito familiar, profissional e sexual, além de atividades de lazer, por exemplo. “O paciente também pode abrir mão de projetos por achar que eles já não valem mais o esforço, deixar de conquistar novos objetivos ou de aproveitar oportunidades que podem surgir em sua vida”, diz o psiquiatra Rodrigo Leite.
  • Problemas relacionados ao sono
Pessoas com depressão podem passar a dormir durante mais ou menos tempo do que o de costume. É comum que apresentem problemas como acordar no meio da noite e ter dificuldade para voltar a dormir ou sonolência excessiva durante a noite ou o dia.
  • Mudanças no apetite
Pessoas com depressão podem apresentar uma perda ou aumento do apetite — passando a consumir muito açúcar ou carboidrato, por exemplo. Segundo o psiquiatra Rodrigo Leite, não está claro o motivo pelo qual isso acontece, mas sabe-se que, somado a outros sintomas da doença, a alteração do apetite que persiste por no mínimo duas semanas aumenta as chances de um paciente ser diagnosticado com depressão.
  • Perda ou ganho de peso
Mudanças significativas de peso podem ser uma consequência da alteração do apetite provocada pela depressão — por isso, são consideradas como um dos sintomas da doença.
  • Falta de concentração
Em muitos casos, a depressão também pode prejudicar a capacidade de concentração, raciocínio e tomada de decisões. Com isso, o indivíduo perde o rendimento no trabalho ou nos estudos. Segundo a psiquiatra Mara Maranhão, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a depressão pode impedir que o paciente trabalhe ou estude, ou então faz com que ele precise se esforçar muito para conseguir concluir determinada atividade.
  • Cansaço
Diminuição de energia, cansaço frequente e fadiga são comuns em pessoas com depressão, mesmo quando elas não realizaram esforço físico. "O indivíduo pode queixar-se, por exemplo, de que se lavar e se vestir pela manhã é algo exaustivo e pode levar o dobro do tempo habitual", segundo o capítulo sobre depressão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), feito pela Associação Americana de Psiquiatria.
  • Pensamentos recorrentes sobre morte
Em casos mais graves, pessoas com depressão podem apresentar pensamentos recorrentes sobre morte, ideias suicidas ou até tentativas de suicídio. A frequência e intensidade dessas ideias podem mudar de acordo com cada paciente. "As motivações para o suicídio podem incluir desejo de desistir diante de um obstáculo tido como insuperável ou intenso desejo de acabar com um estado emocional muito doloroso", de acordo com o DSM-5.


No Brasil
O suicídio representa a terceira principal causa de morte de pessoas em plena vida produtiva. As consequências atingem também a família. Pesquisas mostram que cada morte afeta – profundamente e por tempo prolongado – pelo menos cinco pessoas. As estatísticas revelam a extensão de um problema que merece a nossa reflexão. Nos últimos 40 anos, as taxas de mortalidade mundial por suicídio subiram cerca de 60%. Nada menos do que um milhão de pessoas morrem por ano por essa causa – uma morte a cada 40 segundos, praticamente todas elas em consequência de depressão ou de algum transtorno mental. Mas há formas de enfrentar a depressão. Vamos a elas:

1. Estabeleça uma rotina
Se você está deprimido, precisa de uma rotina. É o que diz Ian Cook, psiquiatra e diretor do Programa de Pesquisa e Clínica de Depressão da UCLA (Universidade da Califórnia – EUA). A depressão pode fazer a estrutura da sua vida desmoronar, fazendo um dia se fundir com o outro e deixando você totalmente sem rumo. Definir uma agenda diária, com horários e atividades, pode ajudar a colocar as coisas de volta nos trilhos.

2. Pratique exercícios físicos regularmente
Nós já falamos aqui sobre várias situações em que um mínimo de exercícios físicos pode fazer uma grande diferença. Desde ter resultados mais satisfatórios em uma determinada prova à dormir melhor e entrar em forma. E esse é mais um contexto onde esse hábito só tem a colaborar com você.
A prática regular de exercícios aumenta a quantidade de endorfinas no corpo, que são responsáveis por uma sensação de bem-estar reconfortante. Também segundo Ian Cook, a longo prazo, a prática de exercícios físicos regulares parece encorajar o cérebro a se religar de maneira positiva. E não é preciso correr maratonas inteiras para se beneficiar com tudo isso. Caminhadas algumas vezes por semana já são suficientes!

3. Tenha uma alimentação saudável
Não há uma dieta milagrosa para curar depressão, mas ficar de olho no que você come pode ser uma boa ideia. Se a depressão tende a fazer você comer demais, ficar no controle da sua alimentação vai fazer você se sentir melhor e mais confiante automaticamente. Segundo o psiquiátrica americano Cook, há evidências de que alimentos com ômega-3, ácidos graxos – como salmão e atum – e ácido fólico – como espinafre e abacate – podem ajudar a aliviar a depressão.

4. Assuma responsabilidades
Quando você está deprimido, a única coisa que você sente vontade de fazer é se afastar da sua própria vida e abandonar todas as suas responsabilidades – tanto em casa quanto no trabalho. Se esforce para que isso não aconteça. Ficar envolvido com algum projeto e ter responsabilidades diárias ajudam, e muito, pois contribuem para um sentimento insubstituível de autorrealização. Se você não consegue trabalhar o dia inteiro, pense em meio período. Se essa ideia também parece intolerável, considere um trabalho voluntário.

5. Desafie pensamentos negativos
O trabalho mental é uma parte significativa e fundamental na luta contra a depressão. Por isso é preciso mudar o jeito que você pensa. Porque quando se está deprimido, seus pensamentos sempre são os piores possíveis, em relação a tudo. E isso é como um bola de neve. Você começa a se sentir péssimo em relação a você mesmo e a tudo que está a sua volta. Por isso, uma boa ideia é usar a lógica como tratamento natural para curar depressão. Você pode se sentir como se ninguém gostasse de você, mas existe alguma evidência real para achar isso? É preciso prática para pensar assim, mas com o tempo se torna algo natural, e você começa a domar pensamentos negativos antes que eles saiam de controle.

E então? Sabendo as causas, os sintomas e os meios para enfrentar essa doença, podemos ajudar as pessoas que amamos. Então vamos fazer nossa parte, basta paciência e empatia.



Fontes:

Um comentário:

Unknown disse...

Muitas pessoas têm preconceito contra quem tem depressão. Alguns amigos se afastaram de mim após saberem que tentei suicídio. Falar sobre isso hoje é muito triste, prefiro pensar apenas no agora, no momento, mas precisei postar este comentário, pois, o assunto é muito importante. Tenho vergonha do que fiz, nem eu sei o motivo e não quero mais vivenciar nada igual. Realmente a família e os amigos são muito importantes para aliviar uma crise de depressão e até mesmo evitar que algo pior aconteça. No meu caso, meu marido me apoiou muito e foi o amor dele e sua atenção comigo que me salvaram literalmente, e, também é por ele que a cada dia quero melhorar e virar a página, na verdade mais do que virar a página, quero escrever outro livro.