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Na UTI |
Depois de um longo e tenebroso inverno e uma molhada primavera, estou de volta. E com um assunto chato (para ser educado): a diabete.
Descobri ser diabético de um jeito horrível, indo para o hospital com hiperglicemia. Dia 18 de novembro foi "O" dia, mal me lembro do que aconteceu, mas vamos aos fatos. Peço desculpas às pessoas que me ajudaram e que não lembro, mas que também agradeço por toda ajuda que me prestaram.
O dia começou na correria (como sempre até ali). Acordei 4:10h, praticamente de um pulo na cama. Segundo minha esposa, já reclamei de tontura (não lembro disso), mas aparentemente seria o cansaço. Devo ter comido algo rápido e tomado um copo de Coca zero, por que é o que eu fazia normalmente. Saí de casa e fui para o ponto, porque depois do assalto no início do ano parei de ir a pé para a estação de trem (adeus caminhadas matinais). Em julho decidi mudar o caminho, indo de ônibus até o Jabaquara e de lá pelo metrô. Pois bem, o que lembro é que comecei a me sentir mal no ônibus, com enjôo e uma leve ânsia de vômito. Comecei a suar e pensei que pudesse ser algo que havia comido na janta. E que talvez melhorasse no metrô, porque o ônibus chacoalha muito (para quem não sabe, as ruas de São Paulo são tremendamente esburacadas).
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São Francisco e eu no jardim do hospital |
A memória seguinte já é no metrô, ainda suando e com ânsia. Na estação Santa Cruz ia 'chamar o Hugo', mas consegui segurar e ali percebi que a coisa estava mais séria do que imaginava. Comecei a torcer para chegar logo ao trabalho ... quem sabe lá eu melhoraria.
Desci na estação Ana Rosa, subi as escadas rolantes e desci as fixas da linha verde (não sei como consegui, tonto como estava). No trajeto da linha verde passei mal mais duas vezes. Ao sair na estação Consolação, andando em frente ao Center 3, não consegui mais segurar e sujei a rua (e acho que a roupa). Cheguei ao prédio onde trabalho, muito mal ... abri a sala onde trabalho e deixando a mochila na entrada, corri para o banheiro, onde continuei colocando tudo para fora.
Minutos depois chegaram as moças da faxina e a copeira e quando viram minha situação, ficaram desesperadas. Lembro que elas falavam comigo, mas eu não conseguia entender ... depois disso lembro que chegaram alguns colegas (lembro do Álvaro e de ter ouvido outras vozes) que falaram para chamar o bombeiro. A memória seguinte foi a de estar saindo do prédio em uma cadeira de rodas, com o Álvaro à porta de um táxi e alguém comentando que a Maíra estava logo atrás chamando para me levar ao hospital.
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Carpas |
Não sei em que banco do táxi sentei, nem o trajeto. A informação obtida depois é que fui no banco da frente, o Álvaro amarrou o cinto de segurança, o taxista desceu a Frei Caneca, subiu a Peixoto Gomide e seguiu pela Paulista. E que reclamei que ia vomitar, mas não aconteceu.
Depois disso lembro de ter acordado (pensei que na UTI, mas ainda era no PS. Estava com o acesso no braço esquerdo, alguém colhendo sangue no braço direito e falei algo com o Álvaro, que foi responsável por mim até a chegada da minha esposa.
Sei que fiz uma tomografia e tomei contraste (lembrança bem vaga). Fiquei sabendo que vomitei no hospital e reclamei que sujei a roupa. Que liguei para a esposa e ela não entendi o que eu falava, então passei o celular para o Álvaro e ele explicou o ocorrido para ela.
Não sei que horas eram, nem que horas ela chegou. Ela explicou tudo para meu pai e ele foi para o Hospital Santa Catarina com minha mãe. Sei que pedi desculpas por ter sujado a roupa.
Não preciso dizer que a UTI é um lugar opressivo. Não ajuda nada acordar com tubos no nariz, acesso no braço, enfermeiros furando seu dedo o tempo todo e injetando insulina na barriga. Meu medo de agulha aflorou com tudo na primeira vez em que foram injetar insulina e eu estava consciente. Mas foi a única vez. Depois disso ficava um pouco tenso, não queria ver, mas nada de pânico. Isso era quarta-feira ainda.
No final da tarde de quinta-feira fui para um quarto fora da UTI. Foi muito bom ter mais liberdade, pude andar pelos corredores. Até fui ao térreo, à noite.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWsDis4kD8i7W6OHrNbK0Wca4sgPIrsqh7elLZitnXusf7OKQn6qGdmbixCrZSZvRM0maxvLkWNyTtxN3yCym5liw_NwuckNWz-4XO2Gohpa7cRApJ_UlZP_KYeneO3Hl682Q4lLwwlJQ/s320/20151120_133813.jpg)
Achei que seria mais fácil mudar minha cabeça que minha barriga. Que sentiria falta de coxinha, pizza, churrasco, cerveja, chopp, hamburguer ... mas até o momento sinto-me muito bem com minha salada, arroz integral, geleia light e afins. Complicado é mudar a cabeça, mas creio estar sendo bem sucedido. Manter a calma e criar uma disciplina são os objetivos.
Quando cheguei no hospital a primeira medição foi de 360. Atingi um pico de 370 lá, mas aos poucos ela vem baixando. Em casa já consegui várias entre 110 e 120 e a média hoje gira em torno de 130 (e baixando).
Com disciplina, força e foco, estou me alimentando de acordo, com intervalos regulares e não muito grandes (de 3 em 3 horas). Fazendo caminhadas diárias, leitura, brincando com meus animais de estimação (a quem carinhosamente chamo de "Turminha").
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Tem um sabiá-laranjeira na árvore. |
Imprescindível a participação de minha esposa, que sofreu demais com meu período no hospital e ainda sofre (mesmo sem ficar falando). Muito importante também meus amigos e colegas, que tem se preocupado e muitos tem se cuidado (alguns começaram agora, outros estão mais atentos).
Bom, essa é mais uma chance que tenho na vida, segundo minhas contas estou na versão 5.0. Tive mais chances que muitas pessoas e agradeço por isso. A ideia agora é parar de trabalho para o anjo da guarda (coitado, como sofre) e respeitar meus limites. A culpa é toda minha por querer viver como se não houvesse amanhã e agora terei que pagar a conta. Tenho plena consciência disso e aceitei que minha vida mudou.
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